sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Fibromialgia: como utilizar os exercícios físicos a favor


Você já ouviu falar sobre fibromialgia? Ela é uma das doenças reumatológicas mais frequentes, que tem como característica principal a dor musculoesquelética.

No artigo abaixo, publicado na Corpore Technical, você conhece outras informações sobre a doença e, sobretudo, entende como os exercícios físicos podem ajudar no controle dela.

Fibromialgia: controle por exercícios físicos

A fibromialgia (FM) é uma das doenças reumatológicas mais frequentes, cuja característica principal é a dor musculoesquelética difusa e crônica.

O termo fibromialgia vem do latim fibro (tecido fibroso, ligamentos, tendões), do grego mia (tecido muscular), algos (dor) e ia (condição), ou seja, condição de dor proveniente de músculos, tendões e ligamentos.

Em um estudo realizado no Brasil, em Montes Claros, a fibromialgia foi a segunda doença reumatológica mais frequente, após a osteoartrite. Neste estudo, observou-se prevalência de 2,5% na população, sendo a maioria do sexo feminino, das quais 40,8% se encontravam entre 35 e 44 anos de idade.

Concordando com os dados brasileiros, a fibromialgia é considerada o segundo distúrbio reumatológico mais comum também nos Estados Unidos, visto que afeta aproximadamente quatro a seis milhões de americanos. Essa população é composta, em sua maioria, de mulheres entre 30 e 60 anos, sendo acometidas 10 mulheres para cada homem.

Além do quadro doloroso, estes pacientes costumam queixar-se de fadiga, distúrbios do sono, rigidez matinal, parestesias de extremidades, sensação subjetiva de edema e distúrbios cognitivos. É frequente a associação a outras comorbidades, que contribuem com o sofrimento e a piora da qualidade de vida destes pacientes. Dentre as comorbidades mais frequentes podemos citar a depressão, a ansiedade, a síndrome da fadiga crônica, a síndrome miofascial, a síndrome do cólon irritável e a síndrome uretral inespecífica.

O American College of Rheumatology (ACR) em 1990 definiu os critérios de classificação da FM, e estes foram validados para a população brasileira em 1999 por Atallah-Haun et al. Esses critérios são: dor generalizada em pelo menos três dos quatro quadrantes corporais nos últimos 3 meses e dor localizada à palpação em pelo menos 11 dos 18 tender points, que são locais dolorosos preestabelecidos.

Os tender points estão localizados: Occipital - inserção do músculo occipital, Cervical baixa - face anterior no espaço intertransverso de C5-C7, Trapézio - ponto médio da borda superior, Segunda costela - junção da segunda costocondral, Supraespinhoso - acima da borda medial da espinha da escápula, Epicôndilo lateral - a 2 cm do epicôndilo, Glúteos - quadrante lateral e superior das nádegas, Grande trocanter - posterior à proeminência trocantérica e Joelho - região medial próxima à linha do joelho.

Estudos mostram que a resposta ao estresse está alterada nos pacientes com FM, o que poderia justificar a baixa tolerância ao esforço físico, manifestada pelo aumento da dor e da fadiga. Essa disfunção do sistema de resposta ao estresse produz alterações neuroendócrinas, entre as quais os altos níveis de cortisol e os baixos níveis de hormônio de crescimento, que levariam à aceleração da degradação da fibra muscular pelo cortisol e à dificuldade em reparar o microtrauma produzido pelo esforço físico por meio da diminuição do hormônio de crescimento.

A revisão de Jones e Liptan descreve que existe uma forte evidência de que os exercícios aeróbicos são benéficos na melhora da capacidade física dos pacientes e nos sintomas da FM. Esses exercícios têm sido considerados padrão com base em evidências no tratamento da FM. No período de 1988a 2008, 56 ensaios controlados e randomizados de intervenção com exercícios terapêuticos foram publicados, dos quais cerca de 35% testaram os efeitos dos exercícios aeróbicos e quase 40% utilizaram a associação de exercícios aeróbicos, alongamento e fortalecimento. Isoladamente, o alongamento e o fortalecimento foram pouco estudados, devendo ter algum benefício, porém, ainda apresentam evidências insuficientes.

O exercício físico aeróbio é normalmente mais indicado que o anaeróbio em pessoas com fibromialgia, pois o primeiro libera potencialmente mais endorfina, hormônio que quando presente no organismo permite-nos uma sensação de prazer, bem estar, euforia e até mesmo analgesia, pois a endorfina é um neurotransmissor, assim como a noradrenalina, a acetilcolina e a dopamina, substância química esta utilizada pelos neurônios na comunicação do sistema nervoso e também um hormônio, uma substância química que, transportada pelo sangue, faz comunicação com outras células. Sua denominação se origina das palavras “endo” (interno) e “morfina” (analgésico). A endorfina é produzida em resposta à atividade física, visando relaxar e dar prazer, despertando uma sensação de euforia e bem estar.

Na fibromialgia não existe uma melhor modalidade esportiva e, respeitando o princípio da individualidade biológica, caracterizando que cada portador é diferente de outro portador e que os mesmos são também diferentes das pessoas não-portadoras, a melhor modalidade de exercício é aquela a qual o indivíduo sente mais prazer durante e após a realização, seja ela caminhada, corrida, natação ou outra.

Tratamento

A estratégia para o tratamento ideal da fibromialgia requer uma abordagem multidisciplinar com a combinação de modalidades de tratamentos não farmacológico e farmacológico. O tratamento deve ser elaborado, em discussão com o paciente, de acordo com a intensidade da sua dor, funcionalidade e suas características,13-14 sendo importante também levar em consideração suas questões biopsicossociais e culturais.

A dor crônica é um estado de saúde persistente que modifica a vida. O objetivo do seu tratamento é o controle e não sua eliminação.

Os pacientes com fibromialgia devem ser orientados a realizarem exercícios musculoesqueléticos pelo menos duas vezes por semana. Programas individualizados de exercícios aeróbicos podem ser benéficos para alguns pacientes que devem ser orientados a realizar exercícios aeróbicos moderadamente intensos (entre 60% e 75% da frequência cardíaca máxima) duas a três vezes por semana14 atingindo o ponto de resistência leve, não o ponto de dor, evitando, dessa forma, a dor induzida pelo exercício. O programa de exercícios deve ter início em um nível logo abaixo da capacidade aeróbica do paciente e progredir em frequência, duração ou intensidade assim que seu nível de condicionamento e força aumentar. A progressão dos exercícios deve ser lenta e gradual e se deve, sempre, encorajar os pacientes a dar continuidade para manter os ganhos induzidos pelos exercícios.

Programas individualizados de alongamento ou de fortalecimento muscular também podem ser benéficos para alguns pacientes com fibromialgia. Outras terapias, como reabilitação e fisioterapia ou relaxamento, podem ser utilizadas no tratamento da fibromialgia, dependendo das necessidades de cada paciente.

O American College of Sports and Medice (2002) sugere o treinamento de força para a população com fibromialgia da seguinte forma:

Frequência das sessões de musculação:

duas a três vezes por semana para alunos iniciantes e de quatro a cinco vezes por semana para alunos avançados.

Intensidade:

evitar cargas excessivas, iniciar com um trabalho muscular em torno de 40 a 60% da carga máxima (1RM), ou seja, um treinamento de resistência muscular.

Volume:

evitar grande número de repetições e séries extensas, usar entre 12 a 15 repetições, com duas ou três séries.

Sequência de exercícios:

colocar primeiro os grupos musculares maiores e depois os menores e priorizar os exercícios multiarticulares e depois os monoarticulares.

Velocidade de contração moderada:

1-2 segundos na fase concêntrica e 1-2 segundos na fase excêntrica.

Intervalos:

usar intervalos de descanso maiores (60 a 120 segundos).

Progressão:

aumentar o peso gradativamente, entre 2 a 10% quando o aluno conseguir executar uma ou duas repetições a mais do que fora proposto inicialmente.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

01. Senna ER, De Barros AL, Silva EO, Costa IF, Pereira LV, Ciconelli RM et al. Prevalence of rheumatic diseases in Brazil: a study using the COPCORD approach. J Rheumatol 2004; 31(3):594-7.

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18. Bates, A. e Hanson, N. “Exercícios Aquáticos Terapêuticos”. São Paulo: Ed. Manole, 1998.

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